segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PRESSÕES INTERNACIONAIS SOBRE A AMAZÔNIA BRASILEIRA


A expansão do capitalismo industrial e financeiro mundial, a partir do século XIX, levou a uma crescente adoção das práticas e políticas imperialistas que, promovidas pelas grandes potências da Europa, o Japão e os EUA, tiveram como alvo os territórios da África, Ásia, Oceania e América Latina. Em meados do século passado, os avanços na tecnologia, nos transportes e nos meios de produção, ocasionaram o surgimento de gigantescas corporações que resultaram da fusão entre o capital financeiro e o capital industrial. O avanço desse processo de concentração de capitais culminou com a criação de trustes, cartéis e, mais tarde, para fugir às legislações antitrustes, holdings. Essas corporações visavam à obtenção de contratos privilegiados quanto ao monopólio de determinados mercados, contando, para esse intento, com a colaboração da diplomacia e, freqüentemente, quando esta falhava, do exército de seus Países, além da prática do dumping para eliminar os concorrentes.
Os investimentos do capital monopolista na Amazônia resultaram no controle de importantes concessões de serviços públicos, como portos e navegação, além da exclusividade nas operações de exportação de matéria-prima, o que dava às casas exportadoras uma ampla margem de controle de preços da goma elástica. É interessante observar os aspectos político e militar desse processo, na medida em que forjaram determinada mentalidade que, de forma bem precisa, migrou para a Amazônia, juntamente com capitais e técnicos estrangeiros. Essa mentalidade desenvolveu-se a partir da forma mais extremada do imperialismo, efetivada na África e no Oriente, particularmente na China.
Ao final do século XIX, uma série de doutrinas expansionistas e seus corolários desenvolveram a noção de um certo “Destino Manifesto”, a ser realizado pelos Estados Unidos. Basicamente, a doutrina do destino manifesto parte de uma idéia de que certos Países possuiriam atributos raciais, geopolíticos e/ou econômicos, que os tornariam superiores aos demais. Esses atributos justificariam seu domínio sobre os Países “inferiores”, com o objetivo de expansão e defesa. Por outro lado, os Países dominados ou sob a esfera da influência dessas potências, seria a lucrar, com o desenvolvimento econômico e social trazidos com o domínio estrangeiro.
As pretensões de estrangeiros, não somente sobre a navegação, mas também sobre o destino a e exploração do Vale do Amazonas criaram, ao longo de todo o século XIX, sérias desconfianças por parte do Governo Imperial, chegando mesmo D. Pedro II (1825-1891) a registrar, em seu diário pessoal de 1862, receio em relação às pretensões dos EUA sobre o Amazonas. As desconfianças do Governo Imperial foram herdadas pelo governo republicano e são de fundamental importância para a compreensão da Questão Acreana.
Uma série de viajantes estrangeiros, que correram o vale desde o período colonial, descreveram de forma apaixonada e idealizada as potencialidades da terra. No século XIX podemos citar Willian H. Edwards (1922-1909), um naturalista norte-americano que desembarcou na Amazônia em 1846 e o naturalista inglês Richard Spruce (1817-1893), que desembarcou no Brasil em 1849 e permaneceu na Amazônia até 1864. De uma maneira geral, as conclusões são as mesmas: a terra era naturalmente dadivosa, porém pobre e despovoada, apenas em razão da indolência de seus povoadores. A solução então seria entregar aquela terra ao gênio operoso do europeu ou do anglo-saxão para transformá-la em um paraíso de fartura e prosperidade.
Havia também aqueles que viam de maneira negativa, tanto os dotes naturais da terra, como os de sua população, estabelecendo corporações pouco lisonjeiras entre a natureza Européia e a Americana. Esse era o caso do Conde Joseph-Arthur de Gobineu (1816-1882), embaixador da França no Brasil entre abril de 1869 e maio de 1970, que se julgou também habitado a emitir opiniões sobre a terra, a cultura, a natureza e o homem tropical. O Conde, autor de um trabalho intitulado “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” (1853-1855), descreveu nesse trabalho a natureza do país: cheio de insetos e seres rastejantes, constituído por um povo de malandros e ociosos, composto de mestiços de todo o tipo, no qual era impossível ver a pureza do sangue europeu. Exceto a família real, evidentemente, eram os brasileiros a ralé do gênero humano.

(Texto apostila Profª Sônia Arruda)

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